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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ivane Fávero, secretária de Turismo de Bento: ‘É preciso que o Brasil nos perceba!’



Dentre as várias competências que se sobressaem do currículo de Ivane Fávero, secretária de Turismo de Bento Gonçalves – RS uma é a sua atuação no planejamento e na gestão pública por mais de 15 anos na região da Serra Gaúcha. Além de professora de cursos superiores de Turismo há mais de 11 anos, Ivane é autora do livro Políticas do Turismo – Planejamento na Região da Uva e Vinho , pela EDUCS (Universidade de Caxias do Sul). Nesta entrevista, concedida ao jornalista Paulo Atzingen, editor do DIÁRIO, Ivane fala sobre vários temas inerentes ao turismo da capital nacional do vinho. Acompanhe:
DIÁRIO – A rota Caminhos de Pedra experimenta uma espécie de pressão da indústria imobiliária. Como essa questão está sendo tratada?
IVANE FÁVERO
Todo destino turístico quando atinge um grau de desenvolvimento elevado e começa a valorizar uma área que antes era uma área extremamente desvalorizada e até empobrecida - e através do turismo começa a ser valorizada - atrai também o olhar da especulação imobiliária. Para evitar que esse avanço de construções que não estão inerentemente ligadas à cultura local, à identidade local e também para que a gente possa preservar as paisagens desses locais turísticos, se faz necessário a criação de leis, então estamos estudando mudanças do próprio plano diretor-municipal e também o tombamento daquele próprio território pelo Instituto Patrimônio Histórico Estadual, que já visualizou a necessidade da proteção através de leis, que é o que aconteceu também em vários países da Europa.
"Acho que o que nos falta não é mais qualificar a estrutura local, a oferta local e sim a promoção desse destino e fortalecimento da identidade da Serra Gaúcha, de Bento Gonçalves
DIÁRIO – O enoturismo é um segmento extremamente original e é um produto que vocês têm aqui com autenticidade. Vocês estão transformando isso num produto turístico também. O que falta para que esse segmento tenha uma repercussão maior, a nível nacional e internacional?
IVANE FÁVERO
Desde 1875, quando começa a imigração italiana para cá, nós tivemos o início do desenvolvimento da Vitivinicultura na região. A partir dela, em torno de 20 anos, começa a abertura dessas vinícolas e com o tempo essas vinícolas também passaram a entender a importância do enoturismo, inclusive como estratégia de marketing e promoção e valorização do vinho nacional. O próprio vinho nacional teve a dificuldade de se consolidar e ainda está nessa luta diária para se consolidar como produto de qualidade. Mas todas as pessoas que chegam aqui ficam entusiasmadas com o que vêem. Acho que o que nos falta não é mais qualificar a estrutura local, a oferta local e sim a promoção desse destino e fortalecimento da identidade da Serra Gaúcha, de Bento Gonçalves, e região vinícola como destino enoturístico do Brasil. Nós lutamos com a própria Embratur, com o Governo Federal, com o Governo Estadual para que no material publicitário do Brasil ou do Rio Grande do Sul se inclua o enoturismo. Nunca foi sequer citada a palavra enoturismo em nenhum material de produção internacional, ao passo que nós vemos os países vizinhos, algumas vezes, com menor estrutura que nós divulgando amplamente o enoturismo como produto turístico. Obviamente, o Brasil pela diversidade cultural e etc, sempre reforçou muito mais o perfil da praia, sol, alegria, futebol, a Selva Amazônica, tudo bem, mas nós precisamos mostrar que existe um sul e que temos um outro produto sim, e o próprio brasileiro precisa perceber que não precisa atravessar a fronteira para visitar vinícolas charmosas, restaurantes aconchegantes, hotéis maravilhosos, enfim, que isso pode ser usufruído aqui no sul do Brasil.
Empreendimentos hoteleiros, como o Spa do Vinho, é um exemplo do diversificação da economia proveniente do plantio da uva
DIÁRIO – A senhora foi secretária de outros municípios aqui no Rio Grande do Sul. Como vê a ascensão da classe média consumindo o turismo e quais são os números de Bento Gonçalves de uns anos para cá?
IVANE FÁVERO –
Fantástico. Acho que esse é o fenômeno que ajuda o Brasil hoje a se manter e manter sua economia, então a pirâmide se transformou num losango e hoje a gente tem a classe média obviamente chegando também a este destino, mas também ampliamos muito o volume de visitantes da classe A em função de empreendimentos muito qualificados . Nós tínhamos em torno de 600 mil turistas em 2009 e projetamos uma meta para atingir 1 milhão de turistas em 2014. A nossa luta hoje é realmente para ampliar a permanência, sensibilizando as operadoras e atingindo até mesmo o público final para tudo o que Bento tem a oferecer. É uma cidade onde você pode ficar sete dias com uma programação extremamente interessante e diversificada e ainda mais se incluirmos os municípios de entorno, já que Bento é um dos 65 destinos indutores e obviamente tem, também, essa responsabilidade, em promover os destinos de entorno.
DIÁRIO – Os hotéis de rede têm pouca presença em Bento. Isso se deve a alguma reserva de mercado ou à demanda?
IVANE FÁVERO
Acho que isso se deve ao perfil local que é muito empreendedor e todo momento que surge uma demanda é o próprio investidor local o primeiro a perceber e a investir; então todos os nossos empreendimentos são frutos dos investidores locais e não falo só dos hotéis, mas das vinícolas, dos restaurantes, enfim, dos atrativos turísticos como um todo. Agora nós temos uma rede chegando, e já se instalou que é a Marriott, o que para nós foi muito interessante porque trata-se de uma rede com altíssimo nível, com qualidade reconhecida internacionalmente e que chega a esse destino porque percebe a qualidade e a potencialidade dele, fortalecendo-o ainda mais. Mas ainda assim os investidores são locais, mas isso não se deve a uma reserva de mercado, não. É realmente a essa percepção e ao empreendedorismo local.
“Temos uma rede internacional se instalando, a Marriott; por ser uma rede com altíssimo nível, com qualidade reconhecida internacionalmente demonstra a qualidade e a potencialidade deste destino”
DIÁRIO – Como é que foi essa mudança de comportamento do turista, de uns anos para cá? Ele trocou o turismo rodoviário pelo aéreo e agora pelo do carro próprio. Como que isso acontece por aqui?
IVANE FÁVERO
Isso tem toda a relação com a mudança do poder aquisitivo do brasileiro e a entrada de empresas aéreas de baixo custo, baixa tarifa que mudou
todo o perfil, então são essas duas forças. Hoje é muito fácil viajar de avião pelo custo, mas também pela facilidade que as pessoas encontram em adquirir uma passagem aérea, então sim, é uma mudança comportamental que necessita ainda de todo um avanço na estrutura aeroportuária, de linhas e de uma qualificação que não pode ser perdida nessa relação de volume x preço; ela deve ser mantida de forma inversa. O turista que chega aqui não necessariamente vem de avião, nós temos muito turismo rodoviário chegando e o turista particular que vem com o próprio carro e não só aqui do Rio Grande do Sul, que é o nosso principal emissor, mas até mesmo de São Paulo, que chega aqui de carro. O turista contemporâneo demonstra uma vontade crescente de ter sua autonomia e viajar com seu carro próprio, então nós trabalhamos com todas essas frentes. O nosso maior número de turistas é de turismo particular e não em grupo de agências.
Edição e Redação do DT

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