Dando sequencia à série de entrevistas com os presidentes das Abav’s Estaduais, o DIÁRIO
entrevista desta vez Roberto Brunet, presidente da associação dos
agentes de viagem do Estado da Paraíba. Brunet foi incisivo ao criticar a
falta de união dos agentes de viagens e em relação à postura antiética
das operadoras que vendem diretamente ao cliente.
“Porque se houvesse essa união, as
companhias aéreas não estariam fazendo essa farra que andam fazendo
hoje em dia, nem tão pouco essas operadoras também. Se houvesse uma
cumplicidade, uma união entre os agentes de viagens, nós teríamos um
poder de força bem maior do hoje em dia”, disse ao repórter do DIÁRIO, Luís Adorno. Confira e reflita sobre a entrevista que Roberto Brunet concedeu ao DT:
DIÁRIO – Quais são os desafios que os agentes de viagens da Paraíba vêm enfrentando hoje?
ROBERTO BRUNET– Em
primeiro lugar, o maior desafio tem sido a concorrência desleal da
internet e depois das companhias aéreas, que começaram a pleitear os
nossos clientes, a hotelaria, num modo geral e as operadoras que em vez
de dar um desconto direto para as agências, estão repassando para o
consumidor final e, consecutivamente, tirando esses clientes das
agências de viagens. Essas são as maiores dificuldades que os agentes
vêm enfrentando aqui.
"Estamos
perdendo, simplesmente, os nossos clientes porque as operadoras estão
entrando em contato direto e estão dando o desconto que a gente tinha" |
DIÁRIO – Aproveitando o gancho, o que o senhor acha das grandes operadoras, que estão se transformando em agências de viagens?
ROBERTO BRUNET – Olha,
nada impede que as operadoras pratiquem isso, mas a partir do momento
que ela se lança no mercado como operadora, para ela trabalhar com a
pessoa jurídica, e começa a passar por cima do agente de viagem, pela
questão financeira, eu acho que ela perdeu a referência. É claro que
prejudica muito os agentes de modo geral, porque estamos perdendo,
simplesmente, os nossos clientes porque as operadoras estão entrando em
contato direto e estão dando o desconto que a gente tinha de
recondicionamento e dando ao cliente, então isso é uma sacanagem. Na
minha opinião, eu discordo e acho que as agências deveriam fazer um
boicote contras as operadoras, para que elas mantenham uma postura
profissional, porque isso é uma questão de ética. Não existe nenhum
termo no contrato social que a impeça de fazer a venda direta, mas é uma
questão de ética profissional.
DIÁRIO – Mas a agência tem condições de fazer um boicote? Como seria esse boicote?
ROBERTO BRUNET – O
problema é que não existe união entre os agentes de viagens. Porque se
houvesse essa união, as companhias aéreas não estariam fazendo essa
farra que andam fazendo, tampouco essas operadoras. Se houvesse uma
cumplicidade, uma união entre os agentes de viagens, nós teríamos um
poder de força bem maior do que é hoje em dia. Você vê que os portais de
venda das companhias aéreas, não conseguem suprir. Quem supri são as
agências de viagens, mas no entanto eles passam por cima da gente e nós
estamos calados. Nós já deveríamos ter tomado outra postura.
Sinceramente, no estágio que está não tem mais diálogo. O que eu estou
vendo a nível mercadológico é a questão da sobrevivência, é cada um por
si, o importante é ganhar dinheiro, passando por cima do outro, e ponto.
DIÁRIO – Nesse sentido, como a Abav do Estado vem se posicionando?
ROBERTO BRUNET – Em
relação às companhias aéreas, o nosso intuito era fazer um acordo para
que obviamente houvesse uma regularidade de condicionamento, que elas
parassem de ofertar tarifas mais baixas do que nas agências de viagens.
Quando fosse lançar promoção, lançasse primeiro com os agentes de
viagens e depois na internet. Eu já fiz reuniões, já tentei explicar que
a força do grupo seria mais forte, mas que infelizmente, a gente tenta
levantar a bandeira, mas sempre tem um que vende e aí acaba tirando
aquele acordo que a gente previamente fez. Em relação às operadoras, não
existe, juridicamente, nada que impeça ela de fazer a venda direto pro
cliente. Então teria que ser um boicote, para que essa operadora tivesse
respeito com a agência de viagens e seus cliente.
DIÁRIO – Como tem sido a adesão de novas agências à Abav-PB?
ROBERTO BRUNET – A
gente está com muita dificuldade, porque o agente de viagens, de modo
geral, acha que a Abav do Estado não faz nada. Quando na verdade, a
gente não para de trabalhar, tem a representatividade do trade, estamos
sempre procurando melhorias, mas infelizmente o próprio agente de
viagens não reconhece isso. E isso é lamentável.
DIÁRIO – Qual é a percentagem de agências filiadas à Abav do Estado hoje?
ROBERTO BRUNET– Hoje,
no Estado, a gente deve alcançar aqui em João Pessoa cerca de 45%.
Então, a gente está com um percentual bom, porque nós não afiliamos
qualquer agência, na realidade a seleção hoje tem critérios da Abav.
DIÁRIO – Qual é o potencial das agências de viagens do Estado, em relação a emissivo e receptivo?
ROBERTO BRUNET – Em
receptivo nós temos poucas agências. 95% das agências estão em
emissivo. Nós temos observado que o poder econômico do paraibano para
viajar tem crescido a cada ano, então o mercado está bem. Está de morno
para quente.
DIÁRIO – Como esquentar mais esse mercado?
ROBERTO BRUNET – Gerando
tarifas competitivas, tendo opções de pacotes diferenciados, não ficar
só naquelas mesmas opções, as agências ofertarem cada vez mais um
serviço de qualidade, porque hoje o que garante a gente é o
relacionamento com o cliente, observar todas as necessidades dele, os
períodos que ele costuma viajar no ano, estar sempre informando as
opções de viagem, de acordo com cada cliente, é por aí esse mercado, que
já está bem, fica ainda melhor.
"O
problema é que não existe união entre os agentes de viagens. Porque se
houvesse essa união, as companhias aéreas não estariam fazendo essa
farra que andam fazendo, tampouco essas operadoras' |
DIÁRIO – Os cursos que a Abav oferece tem sido suficientes?
ROBERTO BRUNET– Os
cursos que a Abav tem oferecidos são maravilhosos. A Iccabav é
sensacional. Outra situação que nós lamentamos muito é que nós não
estamos conseguindo conscientizar os agentes de viagens de que eles
precisam de capacitação. Nós temos feito os cursos da Abav, mas não
temos visto a adesão que gostaríamos que estivesse acontecendo. São
cursos que praticamente a gente não cobra nada e que, na maioria das
vezes, nós temos um percentual pequeno de agente de viagens que procura
se qualificar.
DIÁRIO – O que o senhor acha da Feira das Américas voltar a ser itinerante?
ROBERTO BRUNET – Especificamente,
na questão do Rio de Janeiro, a própria hotelaria começou a cobrar uma
taxa que não existe. Então, o evento é destinado aos agentes de viagens,
no entanto, as tarifas são altíssimas. O Riocentro é um pouco distante
de Copacabana, onde ficam a maioria dos agentes de viagens. Então, ficou
totalmente saturado. Os agentes de viagens não conhecem todo o Brasil. A
partir do momento que existe a itinerância, é importante para os
agentes conhecerem outras cidades, embora não há possibilidade, pelo
porte da feira, de sair do eixo Rio – São Paulo.
fonte diario de turismo